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Nova versão de ‘Alma’, do amazonense Claudio Santoro, estreia no Festival Amazonas de Ópera, neste domingo

Em toda sua extensa carreira, o maestro amazonense Claudio Santoro criou apenas uma ópera, “Alma”, baseada na obra de Oswald de Andrade. Em 1998, foi realizada a primeira montagem, no segundo Festival Amazonas de Ópera (FAO), com elenco estrangeiro e cortes no manuscrito original. Em 2019, ano do centenário de Santoro, uma nova versão será apresentada no 22º FAO, após a entrega de um manuscrito inédito. A estreia da nova montagem será realizada neste domingo (26/05), às 19h, no Teatro Amazonas.

“Alma” será apresentada pela Amazonas Filarmônica, Corpo de Dança do Amazonas e Coral do Amazonas. A ópera, que tem quatro atos e duração de 2h30 (com um intervalo de 20 minutos), terá regência dos maestros Marcelo de Jesus (nos dias 26 e 30 de maio) e Otávio de Simões (dia 28 de maio).

Os ingressos para o FAO 2019 estão à venda na bilheteria do Teatro Amazonas e pelo site Bilheteria Digital (www.bilheteriadigital.com/teatroamazonas), com valores que vão de R$ 2,50 a R$ 60.

Para o secretário estadual de Cultura, Marcos Apolo Muniz, é um privilégio poder realizar essa homenagem a Claudio Santoro. “A importância dele transcendeu as fronteiras do Brasil. É um dos compositores mais respeitados, reconhecido no mundo inteiro. Temos que celebrá-lo. Não é à toa que ele dá nome ao Liceu de Artes e Ofícios do Amazonas, onde são lapidados inúmeros talentos que sonham com uma carreira sólida no mundo das artes”, observa.

O maestro Marcelo de Jesus reforça a excelência do trabalho do maestro e compositor amazonense. “Claudio Santoro era excelente em tudo que fazia e nesta obra isso fica evidente. ‘Alma’ tem personagens bem construídos, é vocalmente complexa e cenicamente intensa. A cada dia que a trabalhamos nos ensaios, a obra ganha mais profundidade. Ele conseguiu uma coisa muito rara nesta ópera, por ela ter tantas abordagens complexas. E agora teremos uma versão completamente nova”, destacou.

A nova versão, que terá estreia mundial no FAO, foi possível após o filho do maestro Claudio Santoro, o cravista Alessandro Santoro, entregar um manuscrito achado nos arquivos do pai, com uma nova revisão, indicações e correções precisas de trechos.

“É uma versão que difere daquela que foi editada pela Fundação Nacional de Artes (Funarte) e mais ainda daquela apresentada em 1998, que teve muitos erros de cópia e cortes, muitos trechos não incluídos. Uma das mudanças que tivemos é um trecho que contém a Canção a Deus, que usaremos logo no início como uma espécie de abertura. Com certeza vai ficar na ‘orelha’ da plateia, é um hit. Após o fim do festival, entregaremos a nova versão que preparamos para uso da família”, pontua o maestro.

Uma das características destacadas por Marcelo de Jesus é o experimentalismo abordado por Claudio Santoro em “Alma”. “Ele percorre vários caminhos musicais sem o perder o arco geral da ópera, o que é bastante difícil de fazer. Há uma parte onde tem um chorinho tipicamente brasileiro, em outras há música eletrônica, que são gravações que ele pede pra inserir durante algum trecho, há uma influência cinematográfica, de compositores russos – dos quais ele bebeu bastante da fonte. Há trechos onde o texto é falado, sussurrado. Mais uma vez, ele (Claudio Santoro) traz uma paleta gigante de técnicas de composição, mostrando-se um músico multifacetado, sem perder a excelência”, afirma.

Elenco

A nova montagem conta os solistas Denise de Freitas (mezzo-soprano), interpretando Alma; Juremir Vieira (tenor), como João do Carmo; Emanuel Conde (baixo), como Lucas; Homero Velho (barítono), como Mauro; Joubert Júnior (barítono), como Dagoberto Lessa; Josenor Rocha (barítono), como Lobão; e Marinete Negrão (mezzo-soprano), como D. Rosaura.

O maestro Marcelo de Jesus ressalta a maioria de amazonenses e “talentos da casa” que compõem a segunda montagem de Alma. “A primeira vez em que foi montada, ‘Alma’ teve um elenco estrangeiro, com solistas e orquestras de fora. O único que estava lá e agora representa mais uma vez o mesmo papel é o Josenor Rocha. Então, fico muito feliz de saber que temos quase 80% do elenco representado por amazonenses e por nomes dos nossos Corpos Artísticos”, diz.

“Temos um trio incrível de solistas com a Denise Freitas, considerada uma das melhores cantoras do Brasil, o Juremir Vieira e o Homero Velho, que são excelentes cantores. Os três têm talento de sobra para atuar em ‘Alma’, que exige muito dos solistas. Para completar, temos uma concepção incrível de cenário, com uma direção cênica bem perspicaz. É uma grande homenagem à memória de Santoro. Acredito que o público saberá um pouco mais sobre o grande músico que ele foi”, complementa.

“Alma” tem direção cênica de Julianna Santos, cenários de Giorgia Massetani, figurinos de Laura Françozo, coreografia de André Duarte e desenho de luz por Fábio Retti. A ópera ainda contará com um videoprojeção que tem concepção de Julianna e Giorgia, direção e edição de Angelica de Carvalho e participação de Andreia Evangelista e Franklin Cassaro.

‘Alma’

Baseada na primeira parte da trilogia “Os condenados”, de Oswald de Andrade, a história se passa em São Paulo, nos anos 1920. O escritor João do Carmo ama a jovem Alma, que não o corresponde. No entanto, a moça de 20 anos se apaixona por Mauro, um cafetão que a agride, obrigando-a a se prostituir em cabarés. Essa conturbada relação permeia a ópera “Alma”, composta (música e libreto) por Santoro em 1985.

Também no domingo (26/05) será inaugurada a exposição “A Alma de Claudio Santoro”, na sala anexo ao Salão Solimões, no Teatro Amazonas. A mostra, que ficará em cartaz até novembro, fará uma linha do tempo sobre a vida e a obra de Santoro, reunindo objetos pessoais, troféus, diplomas e até pinturas – materiais do acervo da viúva Gisele Santoro.

Sobre Claudio Santoro – Claudio Franco de Sá Santoro nasceu em Manaus, no dia 23 de novembro de 1919. Na adolescência destacou-se na cidade participando de recitais, o que lhe rendeu uma bolsa de estudos, concedida pelo Governo do Estado, para estudar música no Rio de Janeiro, de onde, anos depois, seguiu para o mundo com sua música. Foi maestro, compositor, professor.

Recebeu diversos prêmios e condecorações no Brasil e no mundo; foi fundador e Maestro Titular das Orquestras de Câmara da Rádio MEC e da Universidade de Brasília; das Orquestras Sinfônicas da Rádio Club do Brasil e do Teatro Nacional de Brasília; membro da Academia Brasileira de Música, da Academia Brasileira de Artes e da Academia de Música e Letras do Brasil, da qual foi Presidente.

Também regeu, como convidado, as mais importantes orquestras do mundo, entre elas a Filarmônica de Leningrado, Estatal de Moscou, RIAS Berlin, ORTF Paris, Beethovenhalle Bonn, Sinfônica da Rádio de Praga, Filarmônica de Bucareste, Filarmônica de Sofia, PRO ART (Londres), Île de France (Paris) e Filarmônica de Varsóvia. Santoro faleceu no dia 27 de março de 1989, em Brasília, regendo, durante o ensaio geral do primeiro concerto da temporada.

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