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Cientistas que comprovaram a teoria de Eistein estiveram em Manaus, meses antes da experiência histórica

Os cientistas Andrew Claude de la Cherois Cromme-lin (irlandês) e Charles Rundle Davidson (o inglês), que efetuaram as medições realizadas na cidade de Sobral, no Ceará, durante o eclipse do Sol ocorrido em 29 de maio de 1919, e comprovaram a teoria da relatividade geral de Albert Einstein, passaram subiram o Rio Amazonas até Manaus meses antes de sua experiências histórica.

Os fatos estão relatados no livro ‘No Shadow of a Doubt: The 1919 Eclipse That Confirmed Einstein’s Theory of Relativity’ do astrofísico e historiador Daniel Kennefick e voltaram à tona com a comemoração dos 100 anos da experiência com o  eclipse solar no Ceará que  transformou Einstein em celebridade mundial.

Após sua primeira chegada ao porto de Belém, a bordo no navio a vapor Anselm, da Companhia Booth Line, proveniente da Inglaterra, Crommelin e Davidson decidiram permanecer a bordo, em sua viagem de “aventura”, de ida e volta, até Manaus.

Retornando a Belém, permaneceram alguns dias na cidade, antes de seguir viagem para Sobral, no Ceará. Durante esta permanência na capital paraense, o jornal ‘Estado do Pará’ publicou no dia 20 de abril de 1919, em sua primeira página, acompanhada de uma foto do busto de Crommelin e outra de Davidson, a tradução de um texto escrito pelos britânicos (que não falavam português), onde é explicado os objetivos de sua visita ao Brasil, incluindo a realização de medidas que poderiam permitir a verificação experimental da teoria da relatividade de Einstein.

As expedições inglesas embarcaram da Europa no dia 8 de março de 1919 para viagens que durariam seis meses; elas se separaram em Lisboa. Duas semanas depois da sua partida, Crommelin e Davidson chegaram ao Pará.

Informados de que o engenheiro Henri Charles Morize, diretor do Observatório Nacional do Rio de Janeiro e um dos fundadores da Academia Brasileira de Ciências (ABC) ainda não chegara a Sobral, os dois partiram para Manaus, onde permaneceram um mês. A decisão dos cientistas de ir ao Brasil foi tomada depois que Dyson recebeu uma carta com recomendações de Morize.

Em novembro de 1919, foi publicado o estudo final sobre o eclipse, assinado por Dyson, Eddington e Davidson.”Os resultados das observações aqui descritas parecem confirmar a teoria da relatividade geral de Einstein”, diz o trabalho. Era o primeiro experimento prático a confirmar a teoria do então jovem físico alemão, Albert Einstein.

Ao desembarcarem no Pará, Crommelin e Davidson foram recebidos pelo cônsul britânico. Desse encontro, os viajantes deixaram registrada a gentileza do diplomata britânico em facilitar a passagem da pesada bagagem pela Alfândega “[…] sem qualquer demora e continuámos a viagem até Sobral”. O navio Anselm, que os levou até Manaus, transportava também mercadorias de grande valor: borracha, sementes, algodão, fibras, entre outros: “A companhia de navegação havia feito um elaborado cais flutuante em Manaus, que se adapta a mudança de 60 pés no nível do rio entre a estação cheia e a seca. […] o ‘Anselm’ não teve dificuldade de aportar”.

 Participantes das expedições brasileira, britânica e americana, a Sobral. Vê-se, da esquerda para a direita, Luiz Rodrigues, Theophilo Lee, Daniel Wise, Henrique Morize, Charles Davidson, Andrew Crommelin, Allyrio de Mattos, Andrew Thomson, Domingos Costa, Lelio Gama, Antonio Lima e Primo Flores. Cortesia da Biblioteca do Observatório Nacional, Rio de Janeiro.
Participantes das expedições brasileira, britânica e americana, a Sobral. Vê-se, da esquerda para a direita, Luiz Rodrigues, Theophilo Lee, Daniel Wise, Henrique Morize, Charles Davidson, Andrew Crommelin, Allyrio de Mattos, Andrew Thomson, Domingos Costa, Lelio Gama, Antonio Lima e Primo Flores. Cortesia da Biblioteca do Observatório Nacional, Rio de Janeiro.

A Expedição Britânica deslumbrava-se com a natureza amazônica. A convite do capitão do Anselm, os observadores ingleses embarcaram em uma lancha a motor para ver de perto a floresta: “Nós atravessamos 1000 milhas da luxuriante floresta do Amazonas, com sua exuberante plumagem. Nós também contrastamos a água amarelada e turbilhante do Amazonas com o lindo verde claro do Tapajós e o marrom escuro do Rio Negro”. (Na verdade o rio marrom era o Rio Amazonas). Um verde exuberante encantava os olhos dos estrangeiros que não estavam acostumados à beleza da floresta tropical. O passeio foi completado com uma caminhada pela mata: “Nós vimos cultivos em pequena escala de café e abacaxi […], e a planta semitiva (com nome nativo Melissa) que se fecha quando é tocada”.

Os observadores descreviam também com entusiasmo os animais, por pequenos que fossem: “Nós também vimos todo o chão se mover em tropas de formigas cortadoras de folhas, cada uma carregando o seu pedaço de folha cortada”.

Ao regressarem ao Pará, em 8 de abril, Crommelin e Davidson foram apresentados ao clube inglês e americano e sentiram-se aliviados quando souberam que a maioria de seus membros era “falante da língua inglesa”, inclusive o gerente da Companhya Tramway: “Ele nos ofereceu passagem livre sobre o sistema, além de nos ajudar em muitas outras formas. Estes passes permitiram-nos explorar a cidade com conforto, e ver algo da densa floresta primitiva que continua existindo a algumas milhas dali”.

Os ingleses partiram do Pará no dia 24 de abril no vapor “Fortaleza” em direção ao Ceará e no dia 29 do mesmo mês desembarcaram em Camocim “[…] após uma tediosa viagem”. Os observadores se depararam com um cenário completamente diferente do mundo amazônico: dunas brancas, coqueirais, jangadas, estivadores desembarcando mercadorias, edificações que remontavam a uma arquitetura colonial.

O eclipse total do Sol, fotografado no Ceará, permitiu confirmar as previsões do jovem alemão Albert Einstein sobre como a luz se comporta em relação à gravidade. O fenômeno permitiu os  cientistas comprovasse pela primeira vez a teoria da relatividade geral, consolidando uma das maiores revoluções da história da ciência.

Meses depois, a façanha catapultou o físico, que até então era pouco conhecido, para a fama mundial.

Nos anos seguintes, a relatividade geral de Einstein permitiria a formulação da teoria do Big Bang, um modelo para explicar como começou o universo. Um ramo especial da astrofísica, a cosmologia física, foi criado só para estudar esse tema.

As ideias do alemão também permitiram que os cientistas desenvolvessem a ideia dos buracos negros e, muitos anos depois, o funcionamento do sistema de GPS – que usa a posição de satélites no espaço para localizar aparelhos na Terra.

Fontes:

http://www.repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/6147/1/2012-DIS-JMRODRIGUES.pdf

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-48296017

https://www.researchgate.net/publication/309183256_A_teoria_da_relatividade_de_Einstein_apresentada_para_a_Amazonia

 

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